Trecho do livro: APARTAMENTO 52
Apartamento 52 - Disponível na Amazon.com
Ele se anunciou mais de uma vez, e parava na porta do corpo como que hesitante, não seria o momento? Era preciso mais? Ou era apenas um jogo de sedução, para que o outro desse mais? O corpo inteiro trabalhava a seu favor. A respiração brusca no fundo do peito, fazendo seu dorso levantar em euforia, a pele arrepiada, à sensibilidade dos dedos, a atenção dos sentidos. Uma conspiração para que ela chegasse a seu gozo pleno, o gozo imediato, louco, deslavado, desavergonhado.
O cheiro ao seu redor era de amor. E tudo a convencia de que seu prazer teria a eternidade breve de um suspiro. Ela se conduzia enquanto a outra se iludia que era ela. O ato de amar é solidário. O gozo não. O gozo é egoísta, é privado, é particular. Amar se divide, o gozo não. Desejar se divide, o gozo não. Fazer amor se partilha, o gozo não.
Quando chegou a hora não ouvia mais nada. Foi à sua essência, sentiu sua existência e se exauriu como se o ultimo pensamento se transformasse em luz. Esgotada, muda, cansada. Ele, seu gozo, a havia deixada inerte e repleta. A outra por um instante sobrava na cama. Por um minuto, era apenas ela, em seus sentidos, em seu estremecimento, na dormência dos músculos, como se sobrevivesse a uma tempestade. Nem percebeu o momento em que se desligou da realidade para se entregar a ele. Quando percebeu-se possuída, ele já havia quase partido.
A outra embalava seu corpo de carinho e ela restava feliz abandonada.