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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O olhar da alma




Quando criança meu pai sempre me dizia: filha olhe as pessoas pelos olhos da alma. Eles enxergam além da realidade. Imaginação de criança é farta e imediatamente associava, os olhos da alma a dois imensos farois que deixassem tudo na mais extrema claridade. Com o tempo, descobri que os olhos da alma na verdade exergam no escuro. Parece não haver diferença entre uma situação e outra, mas as diferenças são extremas. Na claridade tudo está exposto e na escuridão se esconde o feio, aquela sujeirinha que incomoda, a roupa amarrotada e o caráter roto de nossas escolhas.  É na escuridão que se instalam as duvidas e os obstáculos fazem parte da surpresa nos obrigando ao improviso.
O problema é que a alma não nos conta o que vê, aprende e se cala, quando muito nos manda sinais que devemos sabiamente interpretar, mas nem sempre a sabedoria nos é acessível, quando muito nos envelhece, e isso leva tempo mas temos pressa. Pressa de ganhar, pressa de escolher, pressa de viver grandes amores, de armazenas roupas no armário, livros na estante como se fosse sinal de inteligência apenas a posse do conhecimento. Temos pressa de trocar de carro, de casar, ter filhos, somar contas bancarias e cartões de credito, Temos pressa de ter prazer, de satisfazes nossos desejos e vontades, somos quase obrigados a ser feliz como se felicidade viesse de uma vez e uma vez aqui, nunca mais nos deixasse. Tem até receita de felicidade andando por ai, mas felicidade é algo pessoal e instansferivel, no máximo contagiante. Felicidade não é um lugar que se chega e se estabelece, que se firma, onde se cria raizes, é antes uma passagem, um caminhar um seguir em frente sempre. Estamos tão preocupados com o fim, que esquecemos que é com o processo que aprendemos. Só não temos paciencia para envelhecer e, portanto para sermos sabios e, portanto de ver com os olhos da alma.
Aos olhos da alma, não vale impressionar com as roupas da moda, com o carrão importado, nem mesmo com o modo educado e envernizado que algumas pessoas exibem como marca de berço. Os olhos da alma não se impressionam com nada, eles reconhecem e classificam. Interpretam o aparentemente interpretavel. Não rotulam, descobrem e possibilitam. Mudam nossa rota, quando não sabemos qual caminho tomar. Nos aconselham e fazem entender que quase nada é realidade, mas meramente promessa. Enxergam os outros com o que os outros podem ser e são e não como queremos que os outros sejam pra nós, economizando decepção.
Aos olhos da alma não há verdades absolutas, porque a vida é relativa: o que hoje é, amanhã se transforma e o que se transforma possibilita e a vida é cheia de possibilidades, então é relativa.
Meu pai, só não me disse como enxergar com os olhos da alma, isso ele guardou pra si. Hoje passados 37 anos de sua morte, chego a conclusão que enxergar com os olhos da alma é uma decisão de cada um e só vê, quem realmente quer.